Apresentação

PEIXE, João (2018) – Apresentação

Apresentação

Da minha arte quero eu ser eterno Aprendiz. Quero que ela seja uma arte com função. Preciso que ela seja uma arte com função. Obrigo-a a ser uma arte com função. Mas que função é esta que repito uma e outra vez? Uma função crítica sobre o mundo que nos rodeia.

As crises ambientais, económicas, humanitárias, de valores e tantas outras de que ouvimos falar só poderão ser solucionadas através de uma consciência crítica. Seja através do cinema, da música, da literatura ou qualquer outro tipo de arte, o mundo precisa que os verdadeiros Mestres destas áreas do conhecimento nos façam questionar.

Por favor, a ti que agora lês isto, não confundas um Mestre com um influenciador do séc. XXI. Enquanto o primeiro te ensinará a pescar, o segundo iludir-te-á com histórias maravilhosas das suas aventuras marítimas que te levarão à alienação do peixe no cardume. Metáforas à parte, ninguém nos deve dizer o que fazer, o que dizer ou o que pensar. Devem sim fazer-nos questionar sobre os assuntos pertinentes que levam a um crescimento pessoal e uma evolução social.

Como Aprendiz na arte de trabalhar a madeira, espero trazer a este mundo peças que contem histórias, que levantem questões e abordem temas importantes.

Como Aprendiz na arte de trabalhar o meu Ser, espero trazer histórias, levantar questões e abordar temas que precisem de uma peça para ganhar um corpo físico e serem mais fortes. Obrigado a ti que estás aí.

“Sonhei com um paíz onde todos chegavam a Mestres. Começava cada qual por fazer a caneta e o aparo com que se punha á escuta do universo; em seguida, fabricava desde a materia prima o papel onde ia assentando as confidencias que recebia directamente do universo; depois, descia até ao fundo dos rochedos por causa da tinta negra dos chócos; gravava letra por letra o tipo com que compunha as suas palavras; e arrancava da arvore a prensa onde apertava com segurança as descobertas para irem ter com os outros. Era assim que neste pais todos chegavam a Mestres. Era assim que os Mestres iam escrevendo as frases que hão-de salvar a humanidade.

Quando eu nasci, as frases que hão-de salvar a humanidade já estavam todas escritas, só faltava uma coisa – salvar a humanidade.”

NEGREIROS, Almada (1921) – “A Invenção do Dia Claro”

*Texto transcrito do livro com a ortografia utilizada pelo autor.